Coroinhas de Santo Aleixo

domingo, 20 de junho de 2010

Formação Eucarística

FORMAÇÃO EUCARÍSTICA
  • Origem
A celebração eucarística tem sua origem na última ceia de Jesus. No contexto da ceia pascal dos judeus, Jesus antecipa o dom total de si mesmo em sacrifício de redenção e institui o memorial da Nova Aliança. Jesus realiza ritualmente, isto é, por meio de rito, o que vai realizar na realidade (morte na cruz).
A ceia pascal dos judeus recordava o acontecimento mais importante do Antigo Testamento, ou seja, a saída do povo da escravidão do Egito e a entrada na terra prometida. Essa recordação se fazia por meio de um banquete (ceia pascal) no qual se consumiam ervas amargas, pão e o cordeiro, e se bebia vinho.
  • A instituição
Jesus convida seus discípulos para a ceia pascal e introduz aí um elemento novo: ele toma o pão, dá graças a Deus, parte o pão e o entrega a seus discípulos, dizendo: “ISTO É O MEU CORPO QUE SERÁ ENTREGUE POR VÓS. Façam isto em memória de mim”. Depois, toma o cálice com vinho, dá graças a Deus e entrega o cálice aos discípulos, dizendo: “ESTE CÁLICE É A NOVA ALIANÇA NO MEU SANGUE. Todas as vezes que beberem dele, façam isto em memória de mim”.
Analisando a instituição da eucaristia, encontramos quatro verbos que Jesus utiliza e que constituem hoje a estrutura fundamental da celebração eucarística: tomar, dar graças a Deus, partir e dar.
Vejamos a que partes da missa corresponde cada um desses quatro verbos:
Tomar = apresentação das oferendas
Dar graças = oração eucarística
Partir = fração do pão
Dar = comunhão.
Este é o núcleo fundamental da celebração eucarística, desde a origem.
  • Duas mesas
No evangelho segundo Lucas, encontramos o episódio dos discípulos de Emaús (Lc 24,13-33). Nesse relato é possível perceber que ao lado da mesa eucarística já havia a mesa da palavra. Temos, portanto, os traços principais da atual celebração eucarística:
1ª parte: Lucas 24,25: Jesus cita e explica as Escrituras (mesa da palavra).
2ª parte: Lucas 24,30: Jesus toma o pão e o abençoa, depois o parte e o distribui a eles (mesa da eucaristia).
Uma passagem dos Atos dos Apóstolos mostra como no tempo dos apóstolos já se abria espaço para a palavra de Deus, ao lado da fração do pão. Podemos dizer que são os rudimentos do que chamamos atualmente de mesa da palavra.
“No primeiro dia da semana (domingo), estávamos reunidos para a fração do pão. Paulo, que devia partir no dia seguinte, dirigia a palavra aos fiéis, e prolongou o discurso até a meia-noite. Havia muitas lâmpadas na sala superior, onde estávamos reunidos (...) Depois subiu novamente, partiu o pão e comeu. Ficou conversando com eles até a madrugada, e depois partiu” (At 20,7-8.11).
Significados e consequências:
  • Ação de Graças
A palavra eucaristia vem da língua grega e significa agradecimento, ação de graças, reconhecimento. É a resposta que brota espontânea do ser humano diante das manifestações de Deus na criação e na história humana.
Quando ganhamos um presente, é natural expressarmos nossa gratidão a quem nos presenteia. Para isso usamos a criatividade: um “obrigado”, um “Deus lhe pague”, um abraço, um sorriso, um telefonema, uma lembrancinha etc.
Viver em ação de graças implica oferecer ao Pai, por Cristo, as coisas criadas e a própria pessoa. É o que Jesus realiza de modo ritual na última ceia, e de modo real na cruz: entrega ao Pai sua vida em sacrifício infinito pela salvação de toda a humanidade.
Para nós, o que significa tomar parte no banquete eucarístico? Significa render graças a Deus por tudo e com tudo.
Por tudo: a vida, a religião, nossa família, a fé em Deus, o ar que respiramos, o sol, a chuva, os alimentos que nos sustentem, as flores, os animais etc. Na celebração eucarística, o pão e o vinho, frutos da terra e do trabalho humano, simbolizam todos os bens da criação.
Com tudo o que somos e temos, isto é, nossas habilidades pessoais, dons, saúde, disposição etc. Deus não precisa de coisas materiais. Ele espera a oferta do nosso ser.
Jesus entregou ao Pai o que possuía de mais precioso, a sua própria vida. Também nós devemos fazer oferta de nossa vida ao Pai, por Cristo, com Cristo e em Cristo.
  • Memorial (fazer memória)
Ao celebrar a última ceia com seus discípulos, Jesus tomou o pão e o vinho, rendeu graças e disse que aqueles elementos eram seu corpo e seu sangue, oferecidos em favor do povo. Em seguida acrescentou: “FAÇAM ISSO EM MEMÓRIA DE MIM”.
Fazer memória da páscoa de Cristo significa TORNAR PRESENTE o ato salvador de Cristo. Revivemos na fé o acontecimento de sua paixão, morte e ressurreição, atualizando-o e tornando-nos participantes dele.
Ao celebrar a eucaristia, não comemoramos algo perdido no passado, ou um fato que ficou apenas na lembrança, mas, proclamamos, aqui e agora, a salvação de Deus aplicada à história presente e futura: “Todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha” (I Cor 11,26).
Portanto, para nós, assim como para os judeus, o memorial tem três direções: olha para o passado, mas projetando-o para o futuro, com a espera do fim dos tempos, e sentindo que o acontecimento histórico (passado) e o futuro se concentram no hoje da celebração.
Aplicando, mais uma vez, esse conceito à eucaristia, temos o seguinte: a eucaristia é um fato passado (morte e ressurreição de Jesus), que se torna presente para nós, aqui e agora (celebração eucarística) e nos projeta para o futuro (o reino de Deus não está concluído, mas vai se construindo até que todos cheguem à plena comunhão com Deus e com os irmãos).
  • Sacrifício
Na última ceia, Jesus tomou o pão, rendeu graças e o deu a seus discípulos como seu corpo oferecido em sacrifício, para que dele comessem. E pegando uma taça com vinho disse-lhes: “Bebeis dele todos, pois isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que será derramado por muitos para remissão dos pecados” (Mt 26,28).
Esses gestos tinham clara intenção de substituir o cordeiro da páscoa dos judeus.
O sacrifício de Jesus não é algo que se reduz aos seus últimos momentos de vida terrena, ou seja, sua paixão e morte. Toda a sua vida foi uma imolação constante. Jesus não buscou seus próprios interesses, mas procurou sempre fazer a vontade do Pai.
Sua vida foi uma contínua doação em favor do povo, principalmente das pessoas necessitadas. Sua vida de total entrega culmina com a morte na cruz. Sua paixão e morte são o coroamento de toda a sua vida doada: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (Jo 13,1).
  • Assembléia
É no meio da Igreja que o sacrifício de Cristo se torna presente. Igreja é palavra de origem grega, que significa assembléia, comunidade do povo, convocada e reunida por Deus.
Desde o início da Igreja os escritos do Novo Testamento falam da eucaristia como reunião da comunidade (assembléia).
A assembléia cristã, portanto, é uma comunidade que celebra e no meio da qual desde o primeiro momento está presente Cristo, o Senhor.
Quem faz parte da assembléia? Todos os fiéis que se reúnem para celebrar em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, o povo e os ministros, incluindo-se o ministro ordenado a quem cabe presidir a eucaristia.
  • Refeição
A missa é uma refeição, um banquete, uma festa. Quem faz o convite é Deus Pai. A convocação é dirigida a nós, filhos e filhas, com a finalidade de nos alimentar com sua palavra e com o corpo e sangue do seu Filho Jesus.
O banquete eucarístico supõe, portanto, a presença de convidados (assembléia) e alimento (pão e vinho, corpo e sangue do Senhor). Sendo o banquete eucarístico uma festa, há também a necessidade de participação externa e da participação interna da assembléia.
Constituem elementos da participação externa os movimentos, as palavras, as aclamações, os cantos, as orações, o toque, os sinais, o abraço da paz etc. Ao passo que a participação interna é a predisposição de cada membro da assembléia, sua vontade de estar ali com os irmãos, consciente do que vai celebrar. A participação interna começa antes que a pessoa entre na Igreja para a celebração.
  • Comunhão
           Comunhão quer dizer comunicação. Mas significa também intimidade (comum união). Quando vamos receber a comunhão (a hóstia consagrada) estabelecemos uma comunhão com Jesus e com os irmãos e irmãs. Portanto, receber a comunhão não é simplesmente receber e ingerir um pedaço de pão consagrado (Corpo de Cristo). Esse gesto significa que o fiel está em comunhão com o corpo de Cristo. Ora, o corpo de Cristo é a Igreja. Em outras palavras, somos nós. Portanto, comungar o corpo de Cristo é estar em harmonia e paz, não só com Jesus, mas também com todos os filhos e filhas de Deus. Quem tem ódio contra alguém deverá reconciliar-se antes de comungar. Ódio e comunhão não combinam.
  • Compromisso social
A celebração eucarística não é um ato fechado em si mesmo. Ela é aberta para fora, para a realidade do mundo que nos cerca. Por isso a missa se expande, se prolonga para além da própria missa. A missa não pode estar fora da realidade que envolve o povo. Aliás, cada pessoa, ao participar da missa, leva consigo sua realidade (sua situação familiar e pessoal, a situação do povo, suas dificuldades, alegrias e angústias...).
Levamos a realidade para a celebração, e levamos a força da celebração para a realidade. Deste modo, fazemos a união da fé com a vida.
Portanto, enquanto houver irmãos passando fome, nós cristãos não podemos cruzar os braços, não podemos celebrar e ficar acomodados. Justamente porque a celebração nos empurra para a ação. Ação transformadora da sociedade. Nesse sentido dizemos que a celebração eucarística é compromisso social.
  • Gratuidade
Gratuidade vem da palavra latina grátis, de graça. A eucaristia pede que sejamos gratuitos, generosos, acolhedores, sem preconceitos. Essa gratuidade se manifesta na celebração e além da celebração. Por isso, quando vamos participar da eucaristia, não convém ficarmos controlando o relógio, achando que tudo está pesado, cansativo, sem interesse. Se isto for verdade, alguma coisa está errada e é necessário corrigir.
É verdade que por vezes nossas celebrações ainda são feitas com muito palavreado. Vamos dar espaço para a Palavra de Deus e diminuir as nossas palavras! Vamos dar preferência para externar nossa fé através do canto e dos gestos simbólicos e manter as palavras indispensáveis para bem celebrarmos. É uma saída para se evitar que a celebração seja enjoativa.
Ser gratuito, durante a celebração, é deixar-se embalar pelo Espírito Santo, o liturgo (celebrante) por excelência. É seguir as inspirações que nos vêm da Palavra, dos símbolos, dos gestos simbólicos. Ser gratuito na celebração é fazer bom proveito de algum fato novo, que não estava previsto no roteiro, mas que nos ajuda a celebrar melhor.
  • Conclusão
A partir dessas breves noções a respeito da Eucaristia, cada um de nós é convidado a ser eucaristia viva nas estradas do mundo. Que quer dizer eucaristia viva? É a pessoa que tem um coração aberto, generoso, compassivo, cheio de bondade e misericórdia, igual a de Jesus. É a pessoa que se preocupa com os irmãos e irmãs, principalmente os mais necessitados de socorro material e espiritual.
Ser eucaristia viva é ser o próprio Jesus presente e dinâmico, hoje, no meio da humanidade.



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